sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Da ditadura do prazer e o direito a felicidade

Há um tema que tem se tornado recorrente na cabeça das pessoas que se propõe a refletir um pouco a respeito da vida, a ditadura do prazer.

Não são poucas as crônicas, artigos e livros que tenho lido e que defendem nosso direito de ficarmos tristes e melancólicos. A maioria deles responsabiliza a vida moderna por esse nosso apego à felicidade. Terça pela manha, li um destes textos do Arnaldo Jabor no site do Estadão - A alegria é um produto de mercado - em que ele afirma que "Hoje em dia é proibido sofrer. Temos de "funcionar", temos de rir, de gozar, de ser belos, magros, chiques, tesudos, em suma, temos de ter "qualidade total", como os produtos." Essa visão se parece com a de Z. Bauman que já comentei em outro post.

Giles Lipovetsky em seu livro A felicidade paradoxal, descreve o tempo atual dizendo que:
 "A vida no presente tomou o lugar das expectativas do futuro histórico e o hedonismo, o das militâncias políticas; a febre do conforto substituiu as paixões nacionalistas e os lazeres, a revolução. Sustentado pela nova religião do melhoramento contínuo das condiçoes de vida, o maior bem-estar tornou-se uma paixão de massa, o objetivo supremo das sociedades democraticas, um ideal exaltado em todas as esquinas."
Concordo com os autores, existe realmente uma ansiedade generalizada por se atingir este estado de alegria, de sucesso, de perfeição que, a meu ver, acabam tendo um efeito contrário ao da felicidade. Uma busca desenfreada pelos momentos de prazer acabam por fazer os espaços entre eles extremamente dolorosos, o que nos empurra em busca de outro momento, e mais outro, e mais outro.

Acontece que nós sabemos que a insatisfação é inerente ao ser humano. Já que não precisamos mais caçar ou arar campos para comer, sobra mais tempo para se pensar no quanto a vida é vazia e buscar maneiras de preencher este vazio. Aí o capitalismo encontrou campo fértil, como tem sido comum se colocar, mas também encontraram campo as igrejas oportunistas, os gurus, os lançadores das mais diversas modas. Tudo serve de entulho pora ser jogado no buraco da existência. Nesta perspectiva, a melancolia, como sentimento que fomenta o recolhimento e a reflexão, serve de ferramenta para o pensamento.

Não dá pra negar que a melancolia é linda de certa maneira. Muitas das coisas mais lindas criadas foram produzidas por melancólicos, deprimidos e afins. Eu mesma, que me aventuro a fazer um pouco de poesia, escrevo com mais paixão nos momentos mais dolorosos. Mas do mesmo jeito que sou contra essa busca pela perfeição, pela "qualidade total" como colocou Jabor, também sou contra essa idéia de culto à tristeza.

Primeiro, acho que poucos melancólicos fazem destes períodos momentos de reflexão que resultem em melhor compreensão da vida, fazendo dela melhor. Tem que ter talento e habilidade para entender que a tristeza pode ser usada como forma de auto-conhecimento. Segundo, a mim parece que este culto à melancolia está se convertendo num movimento contra "a opressão do mercado". Se estão todos indo para um lado, eu vou para o outro.

Não consigo entender uma vida que vá adiante sem uma alternância saudável entre os estados de alegria e de tristeza. Prefiro o otimismo patológico, mas aproveito os momentos de melancolia para aprofundar minhas análises. Melhor sermos meio mussarela, meio calabreza. Cíclicos. Porque depois que se desce, é presciso subir para não se afogar.

"A aceitação do incompleto é um chamado à vida.", escreveu lindamente Jabor. Mas, por favor, não me venha querer tirar o direito de ser feliz.

Tatiana

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110222/not_imp682684,0.php

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