sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Mentiras Sinceras
Acho curiosas aquelas pessoas que acreditam nas mentiras que contam. Uma vez, assistindo a um seriado de TV, vi um episódio em que um personagem, um cara, ensinava o amigo a mentir para dar o fora na namorada e dizia, “Não se esqueça, não é mentira se você realmente acredita!” Uma tremenda verdade do ponto de vista do mentiroso e provavelmente, da pessoa que acredita nele. A pessoa vive aquela ‘verdade’ e sofre ou é feliz com ela. Aí fica a pergunta, “O que é verdade?”.
A filosofia neste século tem discutido a noção de certo e errado e a noção de verdade. Resumindo grosseiramente o pensamento de alguns autores, o que é certo ou errado, a noção de verdade, dependem do olhar do observador. Até a verdade científica começou a ser discutida, porque um mesmo experimento feito em diferentes condições dá resultados diferentes.
Tenho uma amiga com quem debato muito, e raramente chegamos a um consenso porque temos olhares muito diferentes e particulares acerca das coisas. Nossas verdades são diferentes. Nessa questão da sinceridade, por exemplo, falando sobre relações humanas, ela acha que o certo é a sinceridade, a verdade nua e crua. Doa se tiver que doer.
Eu concordo com ela, até o ponto em que a gente não fira o direito do outro ao sonho. As pessoas precisam sonhar um pouco e imaginar que terão, ou serão algo ou alguém para que não enlouqueçam com a realidade dura da vida. Não estou dizendo que a mentira é positiva, mas um pouco de fantasia o é. Prova disso são as crianças da ONG onde sou voluntária. Crianças de uma comunidade carente que vivem a realidade da violência e chegam até nós com estas marcas, são agressivas umas com as outras e fechadas em si muitas vezes. Mas você vê o comportamento delas mudar quando é oferecido a elas um pouco de ilusão, um sonho. Seja nas estórias contadas, na possibilidade de uma vida melhor com as coisas que aprendem ou na simples chance de fugir um pouco daquilo tudo e deixar a mente descansar antes de voltar para o real. O menino de rua pode nunca virar um Ronaldinho, mas pode sair da rua com a bola, dizer para ele que a verdade é que ele não tem chance é crueldade.
Tirando-se os casos extremos, fica uma linha difícil de se traçar entre a mentira que gera o sonho e melhora a vida, e a mentira que cega, engana e é usada para fugir de quem se é ou manipular pessoas.
Cazuza cantou que “mentiras sinceras me interessam”, Osho dizia que nem toda a verdade é sabia e nem toda mentira é tola. Está aberto o debate, qual verdade, ou mentira, te interessa?
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Cyber Love
- O quê?
- Estou te deixando. Tenho um novo amor!
- Mas como assim? Que loucura é essa?
- É isso mesmo. Você sabe muito bem que nossa relação está desgastada. Nós não conversamos como antes, o sexo esfriou. Parece que nos desconectamos...
- Te viraram a cabeça! Quem é? Como aconteceu?
- Foi numa sala de bate-papo. Nos encontramos umas duas vezes e a coisa evoluiu naturalmente para o msn e daí pra cam.
- O quê? Já rolou cam?
- É, não deu pra resistir. A quimica foi muito forte. Achei que devia te contar e acabar logo com tudo.
- Não! Espera! Vamos conversar. São cinco semanas de relação, não posso te perder assim. Ninguém tecla como você!
- Desculpa, já te excluí do meu orkut e bloquei no msn. Não tem mais volta. Acabou!
- Espera!
- Adeus!
- Fala comigo!!!
"A mensagem não pôde ser entregue. O usuário parece estar offline"
E assim morre mais um amor.
(Tati Sister)
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Pablo Neruda
Um site muito bom e completo sobre Neruda é http://www.neruda.uchile.cl/. O site é em espanhol, mas dá pra entender. Tem de tudo e dá até pra ouví-lo recitando seus poemas. Mas pra quem não quiser ler em espanhol, há vários sites que trazem trabalhos do autor. O site http://fabiorocha.com.br/neruda.htm, traz alguns poemas traduzidos, além de outros autores.
Este que você encontra aqui, foi publicado no livro Veinte poemas de amor y una canción desesperada de 1924. Não é ainda o meu favorito, mas resume bem o espírito do livro.
Divirtam-se
ME gustas cuando callas porque estás como ausente
ME gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Bebendo saquê
Domingo passado, como faço vez por outra, fui dar um passeio pela feirinha da Liberdade atrás de alguma coisa apetitosa pra ajudar a aliviar a leve ressaca da noite de sábado. Depois de comer, batendo perna pelo bairro, fui parar em um café/restaurante da região em busca de um expresso. Restaurante japonês, claro. Como era de se esperar, alguém na mesa ao lado bebia saquê. Me impressionou o fato de que a tal pessoa tinha em sua sacola várias garrafas da tal bebida de tamanhos, cores, formatos e preços diferentes. A pessoa, no caso uma jovem brasileira amante da cultura japonesa, e já liberta de qualquer tipo de timidez pelo consumo de alcool, acabou por começar um papo.
O papo até que interessante, acabou desembocando na bebida, e eu e a amiga que me acompanhava, fomos convidadas a provar da garrafa já quase vazia de nossa mais nova amiga de infância.
Surpresa! Um gole na bebida mudou minha percepção sobre ela. A pessoa que pela primeira vez usou o termo suave ou redondo para bebidas, certamente havia tomado um bom saquê. Seu sabor levemente adocicado e fresco, quase frutado, foi característica da baixa temperatura em que foi servido. Pesquisando, descobri que a melhor temperatura para o saquê ser consumido é de 35º C, porque nesta temperatura se percebe melhor suas delicadas características. Injustiça minha tê-lo bebido apenas acompanhado de frutas até hoje.
Como vivemos num país tropical sou mais provar a bebida fresca mesmo, mas vale a pena provar outras características. Quem quiser dividir comigo suas impressões, é muito bem-vindo.
Para saber mais sobre nossa estrela de hoje, seguem aqui alguns links interessantes.
Ah, informação importante, já fiquei bebada de saquê, mas nunca passei mal. Isso é um plus!
http://www.culturajaponesa.com.br/htm/saque.html
http://www.japaoonline.com.br/pt/saque.htm
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Vodka
Que luz é essa?
Quem é essa que escreve?
Café
Por favor, café!
Cabeça dói
Náusea
Dor da alma transferida
Ao corpo por ela
Vodka!
Como era mesmo o nome?
Paracetamol
Por favor, paracetamol!
Café
Talvez um cigarro
Lucidez?
Por favor, não.
Vodka
(Tati Sister)
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Dia 1
INATINGÍVEL
Descansa amor
Descansa seu corpo sobre o solo
Descansa o corpo
Que sendo sempre meu
Nunca me pertencerá
Descansa amor
Me promete o amor
Que mesmo tendo
Nunca me alimentará
Descansa amor
Me ofereça um mundo
Que nunca existiu
E nunca existirá
Descansa amor
Me tome em seus braços
E nunca me permita
Descansar
(Tati Sister)
EU, QUE EU POSSA DESCANSAR EM PAZ
Eu, que eu possa descansar em paz – Eu, que ainda estou vivo, digo,
Que eu possa ter paz no que tenho de vida.
Eu quero paz agra mesmo, enquanto ainda estou vivo.
Não quero esperar como aquele piedoso que almeja uma perna
Do trono de ouro do Paraíso, quero uma cadeira de quatro
Pernas aqui mesmo, uma cadeira simples de madeira. Quero
O resto da minha paz agora.
Vivi minha vida em guerras de toda espécie: batalhas dentro e fora,
Combate cara a cara, a cara sempre a minha mesmo, minha cara
De amante, minha cara de inimigo.
Guerras com velhas armas, paus e pedras, machado enferrujado,
Palavras, rasgão de aça cega, amor e ódio,
E guerra com armas de ultimo forno metralha, míssil, palavras,
Minas terrestres explodindo amor e ódio.
Não quero cumprir a profecia de meus pais de que vida é guerra.
Eu quero paz com todo o meu corpo e em toda minha alma.
Descansem-me em paz.
(Yehuda Amichai – Trad. Millôr Fernandes)