segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ridículos Humanos III

Todos os dias o menino entrava pela porta da frente do onibus com uma caixa de balas em uma mão e um punhado de papeis amarrotados na outra. “Cobrador, posso passar por baixo?” “Passa, moleque.”

Todos os dias aquela senhora observava o menino entrar no onibus, distribuir seus papeis “Eu vendo bala pra ajudar minha mãe comprar alimento. Que Deus abençoe. Obrigado.”, vender alguns e sair pela porta de trás já de olho no onibus que vinha atrás. As vezes ela comprava algumas balas. As vezes não. Mas sempre observava o menino. Observava o olhar um tanto duro daquele menino que nao devia ter mais de 10 anos.

Pensou em chamar o menino e contar-lhe uma estória. Uma estória fantástica, cheia de heróis e aventuras. Imaginou a criança brotando nele de novo. Imaginou-se ajudando a criar um homem bom para o mundo.

“Tia, qué bala?”

“Hoje não querido. Hoje não.”

Nunca mais pegou aquela linha de ônibus.

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