Trecho retirado de um ensaio de Francisco Bosco na revista CULT ed.142.
As discussões carecem de objetividade sob todos os aspectos; elas são tortas, sinuosas, indiretas, mas por essas vias acabam chegando a algum lugar. Todo mundo já pode notar que uma discussão que começa a respeito de um ponto simples e objetivo vai parar, horas depois, em velhos ressentimentos, ou mesmo se demora infinitamente em destrinchar minúcias do problema, cada um defendendo seu ponto, entrincheiradamente, enquanto a discussão, longe de se resolver, se agiganta, se complexifica, se agrava. É claro que essas discussões (como toda discussão, pois há sempre um imaginário em jogo, mas em nenhum lugar um imaginário mais suscetível do que no amor) são um espetáculo da erística, e é aí que elas se afundam indefinidamente. Mas o que está em jogo não é tanto superar o adversário que é o outro, como superar o adversário que é comum : a fadiga, o ressentimento. A dificuldade maior, o problema interno, inominável, das discussões é precisamente como terminá-las sem que haja um vencedor, e sim dois.
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